No processo criativo, o compositor lida continuamente com avaliações, expectativas e incertezas. Por isso, dois mecanismos psicológicos — descritos pela psicologia social como erros de atribuição (Heider, 1958; Kelley, 1967) — aparecem com frequência na composição de canções: a atribuição pessoal distorcida e a atribuição equivocada ao outro.
1. Atribuição Pessoal: quando a culpa recai sobre si
É o momento em que o compositor interpreta um resultado ou crítica como prova de incapacidade.
Exemplos comuns:
“Minha música não foi selecionada porque não sou bom o bastante.”
“Se alguém não gostou, minha canção é ruim.”
Segundo estudos sobre viés cognitivo (Beck, 1976), isso leva a:
- bloqueio criativo
- autocensura
- desistência precoce de ideias promissoras
Para o compositor, isso significa produzir menos, mostrar menos suas canções e evoluir mais lentamente.
2. Atribuição ao Outro: quando a causa é colocada nos demais
É o movimento oposto: interpretar o comportamento de jurados, intérpretes ou do público como injustiça ou perseguição.
Exemplos:
“A banca não me escolheu porque eles não entendem meu estilo.”
“O arranjador estragou minha música de propósito.”
A psicologia descreve isso como viés de correspondência (Ross, 1977), que pode gerar:
- conflitos profissionais
- rejeição a feedbacks úteis
- dificuldade em ajustar a canção ao contexto de um festival ou projeto
3. Impacto geral na carreira do compositor
Ambos os erros — voltados para si ou para o outro — distorcem a percepção da realidade e prejudicam o desenvolvimento artístico.
Eles fazem o compositor:
- interpretar resultados de forma emocional, não técnica
- ignorar fatores reais (tema, regulamento, arranjo, mercado, contexto)
- deixar de aprender com cada etapa
4. O antídoto
Uma postura mais objetiva e consciente, baseada na teoria da atribuição, ajuda o compositor a perguntar:
“Quais fatores reais influenciaram esse resultado?”
“O que está sob meu controle melhorar?”
“Que outras interpretações são possíveis?”
Isso torna o processo criativo mais leve, profissional e resiliente — e a canção, mais madura.
Por Bruno Kohl

