Hoje trataremos de Alma de Gato, álbum de Zé Motta e Carlos Chaves, criadores
reconhecidos pelo talento. Ao ouvi-los, vocês reconhecerão as possibilidades que a
diversidade da música brasileira alcança quando pelas mãos de quem domina o ofício.
Eis algumas.
“Alma de Gato” (Zé Motta, Carlos Chaves e Laís Ferreira): a tampa abre sob o
som do violão requinto de Carlos Chaves e do violão de seis cordas de Zé Motta. Graças
à energia dos violonistas, a harmonia evocada pelo som de seus instrumentos é de uma
simplicidade ímpar. Zé Motta canta e traduz o sentimento dos versos de Laís Ferreira.
Belo início!
“O Grito de Davi” (Zé Motta, Carlos Chaves e André Lacerda): o Quarteto
Maogani brilha no arranjo desde a intro, tocada pelo violão requinto de Carlos Chaves,
o violão de oito cordas de Paulo Aragão e o violão de seis cordas de Lucas Gralato, até
os baixos do violão de sete cordas de Diogo Sili. A delicadeza dos violões emaranha-se
com a poética de André Lacerda pela voz de Zé, que expõe a saga dos povos indígenas.
“Lúcido Orientado” (ZM, CC e André Lacerda): o requinto soa dedilhado.
Maria Clara Valle participa com a sonoridade grave de seu violoncelo. Zé canta os
versos antenados de Lacerda, que tratam da dignidade perdida na situação de rua, onde
milhares de brasileiros se consomem em drogas e abandono.
“Althierado” (ZM e CC): Chaves e Zé escancaram sua admiração por Guinga.
Mestre de composições, criador de introduções definitivas, Guinga está presente,
tocando uma nova e categórica intro no violão e seguindo acompanhando Zé, que entoa
vocalises. Um trio de responsa!
“Dia Bom” (ZM, CC e Renato Frazão): o samba vem maneiro pela voz de
Laura de Castro, com a percussão de Mateus Xavier embalando o duo vocal com Zé.
Composta em 2022, a letra de Frazão é um grito de esperança por um Brasil
democrático e livre de negacionistas e genocidas.
“E Avoou Meu Amor” (ZM, CC e André Lacerda): a flauta de Aline Gonçalves
acaricia a letra de amor de Lacerda. Os violões de seis e requinto buscam ali seu
aconchego e acertam na mosca. Alice Passos, cantando bonito como sempre, entrega o
canto para Zé. Após uníssono, o duo fecha o arranjo cantando em terças.
“Diversa” (ZM, CC e Renato Frazão): puxada pela percussão de Mateus Xavier,
pelos berimbaus e o violão de Zé, mais o sete cordas de Chaves, a letra de Frazão ganha
força no duo vocal de João Biano e Zé. O suingue predomina até o final em fade in.
“Minha Irmã e Eu” (ZM, CC e Moyseis Marques): fechando a tampa, Carlos
Chaves, Zé Motta e seus violões convidaram a voz indiscutível de Mônica Salmaso,
bem como o clarinete de Vicente Alexim… meu Deus! Ouçam Alma de Gato, álbum
criado com grandíssima musicalidade – aptidão inescapável para fazer da música algo
sublime.
Aquiles Rique Reis
Nossos protetores nunca desistem de nós.
Ficha Técnica:
João Ferraz: gravação, mixagem e masterização; Felipe Larrosa: gravação.
Ouça o álbum:
https://open.spotify.com/album/7w4COZN33N3JiQeD1j2uRB?si=LceHjbIwTzG58vpn
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