Hoje vamos de Carnaval: The Songs Were So Beautiful (AAM), álbum do pianista,
arranjador e compositor Antonio Adolfo. Nesse trabalho, ele nos traz uma seleção de
gêneros musicais que, cada um à sua maneira, se prestam a animar os carnavais.
Ao longo dos séculos, a veia carnavalesca dos brasileiros elegeu como
sucessos do reinado de Momo algumas músicas “feitas para o meio de ano”, que era
como se costumava chamar as músicas que, a princípio, não tinham nada a ver com o
carnaval. Assim, muitas vezes, autores de músicas não carnavalescas, de canções, a
princípio, não pensadas para as festas, tiveram o contentamento de ouvir suas
composições animando a folia nos salões e nas ruas.
Pelas mãos de Antonio Adolfo, um instrumentista ligado à MPB e ao jazz,
rolou a escolha de uma seleção primorosa e tão eclética quanto a diversidade da
própria música popular brasileira criada ao longo do ano todo. Antonio usou com
extrema sabedoria a sua visão sem preconceito do que seria, ou não, uma música
carnavalesca de raiz. No álbum, marchinhas misturam-se a sambas, desde os mais
animados, como o “Oba, O Bafo da Onça”, sucesso de Oswaldo Nunes, de 1962,
até os mais dolentes, como “Agora É Cinza”, de Bide e Marçal.
O que dizer da escolha de AA por “Mal-me-quer”, marcha-rancho de
Newton Teixeira e Cristóvão Alencar? E da antológica “As Pastorinhas”, de
Braguinha e Noel Rosa, quando ajuntadas ao frevo “Vassourinhas”, de Matias da
Rocha e Joana Ramos, e ao samba “Exaltação à Mangueira”, de Eneas Brittes da
Silva e Aloisio Augusto da Costa? Meu Deus!
E de “É Com Esse Que Eu Vou”, sucesso de Pedro Caetano, de 1948, ao
lado de “Vai Passar” – o grito de esperança lançado em 1984 por Francis Hime e
Chico Buarque, exorcizando uma “página infeliz da nossa história”? Ou de “A Lua
É dos Namorados”, de Klecius Caldas, Armando Cavalcanti e Brasinha, encorpando
um trabalho simples, mas fundamental em sua conceituação harmônica e seus
arranjos, marcas registradas de um AA cada vez mais elaborado?
Antonio tem a capacidade de unir em torno de si o que há de melhor na cena
instrumental. Assim, além de seu piano enxuto, saca as feras que estão com ele: Lula
Galvão (guitarra), Jorge Helder (baixo acústico), Rafael Barata (batera e percussão),
Jessé Sadoc (trompete e flugelhorn), Idriss Boudria (sax alto), Marcelo Martins (sax
tenor e flauta), Rafael Rocha (trombone) e André Siqueira (percussão). É mole?
Pois foi com essa rapaziada que nasceu o fascinante Carnaval: The Songs
Were So Beautiful. A fuzarca se encaixou com o jazz brasileiro e foi para a avenida
remagnetizar o espírito do povo brasileiro. Há que ouvi-lo, e aplaudi-lo!
Aquiles Rique Reis
Nossos protetores nunca desistem de nós.
Ficha técnica:
Gravação: Leo Alcantara; mixagem: Marcelo Saboia; masterização: André Dias. A
partir de um desenho do saudoso Elifas Andreato (1946-2022), seu filho Bento
Andreato criou a bela capa.
Ouça o álbum:
https://open.spotify.com/album/3AXgqYpdiXWj5pyVfEcG3g?si=0eP4rtLmQTqZy179
0JLtvw