Brasilidade na Veia

pife moderno

Hoje falaremos sobre Edu Pife (Biscoito Fino), álbum recém-lançado por Carlos Malta
e Pife Muderno para celebrar a obra de Edu Lobo. Seguindo sua carreira de multi-
instrumentista arrojado, Malta criou, há trinta anos, o Pife Muderno, grupo que tem a
sua cara, sem barreiras estéticas. Tudo a partir de uma formação extraordinária: dois
flautistas (ele próprio e Andrea Ernest Dias) e quatro percussionistas que têm em si a
força do toque, Marcos Suzano, Bernardo Aguiar, Durval Pereira e Fofo Black, recém-
chegado no grupo.

Sabe-se hoje que desde os sete anos de idade Malta encanta-se com a obra de
Lobo, ao vê-lo no III Festival da TV Record de 1967 cantando “Ponteio”, ao lado do
Quarteto Novo, Marília Medalha e do grupo vocal Momento 4. Emocionou-se ao ver
resumida numa só canção a essência da cultura popular nordestina – e não era pra
menos.

Foi a partir desta concepção musical que Malta foi à discografia de Edu Lobo.
Reouviu tudo, desde o primeiro compacto lançado em 1962 (quando Edu tinha 19 anos),
para, enfim, conceber a direção musical e os arranjos para a refinada obra de Edu, plena
da diversidade de gêneros da música popular brasileira: sambas, frevos, canções e
baiões.

Mas e Edu? O que mais dizer sobre ele? Bem, modestamente, certa vez eu
escrevi: “Eduardo de Góes Lobo não crê em inspiração. Crê em dedicação. Entusiasmo
cotidiano na elaboração de músicas para teatro, trilhas para cinema, temas para balé.
Nisso tudo e apenas nisso, Edu Lobo, um artesão de harmonias, crê”.

Repertório:
Para interpretar os arranjos que escreveu para treze músicas de Edu Lobo (em
doze faixas), sempre com o som único do pife, numa autêntica versão Brasil na veia,
Carlos Malta e Pife Muderno deram conta de recriar boa parte do repertório de Edu. E
assim vieram “Abertura do Circo”, só de Edu, passando por “Uma Vez Um Caso”
(dele e Cacaso) e “Viola Fora de Moda” (dele e Capinam), indo a “Lero-Lero” (dele
e Cacaso), até fechar a tampa com outra só dele: “Bate-Boca”, e três parcerias com
Chico Buarque: “A História de Lilly Braun”, “Na Carreira” e “Frevo Diabo”.

As participações especiais adicionaram molho insuperável às músicas. Em
alguns arranjos, Malta contou com a voz de Edu em duos e vocalises com o cantor Matu
Miranda, como em “Zanzibar” (Edu Lobo Editora) e “Água Verde” (Edu e Ruy
Guerra), e das duas vozes somadas a Hermeto Pascoal, em “Casa Forte” (Edu).

Hermeto ainda tocou percussão corporal, escaleta e voz no copo em “Vento Bravo”
(Edu e Paulo César Pinheiro); assim como o violoncelo de Jaques Morelenbaum brilhou
em “Repente” (Edu e Capinan).

Edu Pife se tornou uma obra de referência do trabalho de Edu Lobo. Ao ajuntar
sua visão musical e orquestral à de Edu, o trabalho de Carlos Malta e Pife Muderno
acrescentou-lhe brasilidade, enriquecendo ainda mais a obra já arrebatadora de Edu
Lobo.

Aquiles Rique Reis
Nossos protetores nunca desistem de nós.
Ouça o álbum:
https://open.spotify.com/intl-
pt/album/1n0FRCkHf0Nx9OWFfKczvu?si=2e52Qf8KR7W2atqi9MhR8Q