Métrica é um cas colunas principais do compositor, neste post, trouxe a visão de uma brilhante letrista, cantor e compositor – Alexandre Lemos, que já foi gravado por inúmeros artistas da nossa música. Confira!
A métrica durante séculos guiou a produção da poesia na civilização ocidental, durante muito tempo o respeito irrestrito à métrica qualificava o poeta, não bastava que ele fosse criativo na ideia do poema, que ele fosse rico nas rimas, importava que ele conseguisse encaixar aquilo naquela forma.
A métrica é a quantidade de sílabas ou palavras que são usadas num verso.
Existem vários versos, nomes de versos, versos alexandrinos ou modelo para soneto. Durante muito tempo isso foi quase uma escravidão para o poeta, entretanto, na modernidade do século XX isso meio que acabou e a poesia moderna se livrou da métrica, se livrou da rima e ficou muito mais interessante, não que a poesia clássica não seja interessante, mas houve realmente uma mudança que compatibilizou a poesia com os tempos industriais, com toda vida urbana e moderna.
A canção também pode e é direito do autor usufruir dessa liberdade, você não é obrigado a respeitar a métrica e você pode fazer cada frase melódica do tamanho que você quiser e a letra vai acompanhar o tamanho dessa frase melódica, por outro lado o que a gente sabe da história da canção é que o formato clássico, consagrado e apreciado pelas sociedades humanas, respeita a métrica , isso porque a métrica faz com que o ritmo se mantenha, faz a melodia ter lógica e ajuda na compreensão das palavras que estão sendo ditas, o importante é que você ao escrever sua letra sobre uma melodia, ou quando você escrever uma melodia sobre a letra, compreenda que é preciso haver respeito a métrica, para evitar que você tenha que sair correndo com palavras para caber em poucas notas ou que tenha palavras de menos pra ocupar uma frase melódica de mais notas.
Vou dar dois exemplos para você de obras musicais clássicas na nossa sociedade: o primeiro é no hino do Brasil ‘’ouviram do Ipiranga as margens plácidas” são 14 sílabas quando você canta você vai perceber que são só 12 notas. “Puxa vida, o cara é mágico, pegou 14 sílabas e enfiou em 12 notas. Como é que ele fez isso?” Usando recursos da coloquialidade, a possiblidade que a língua falada tem de juntar vogais formando uma sílaba só e entre outros recursos que fazem com que uma coisa que aparentemente não cabe passe a caber numa frase melódica menor.
Como uma canção é uma palavra falada transformada em palavra cantada a coloquialidade ajuda muitas vezes o compositor a respeitar a métrica e se expressar de uma maneira compreensível usando essas ferramentas, como os truques da língua falada, por exemplo: a preposição é “para”, mas a gente fala “pra”, se a gente usar “pra” na canção ganhamos uma sílaba, a palavra “para” é um dos recursos que o idioma te oferece para respeitar o tamanho da frase melódica com o tamanho da métrica considerada adequada na parte da letra, então em “ouviram” o cara tinha 3 sílabas e 3 notas, mas quando ele fala “do Ipiranga”, esse “o” e esse “i” se juntaram e virou uma silaba só então coube 14 sílabas em 12 notas. Ficou legal, é fluente, você canta, o Brasil canta emocionado com a mão no coração quando a seleção entra em campo e tal, apesar de usar coloquialidade na expressão poética, o caráter épico e cívico do hino não se perde.
O hino da independência, por outro lado, tem alguns usos dos versos que não correspondem a necessidade da palavra cantada, então, por exemplo, a gente está acostumado em letra de música, nos finais das frases, que uma só sílaba preencha mais de uma nota. A música americana tem muito isso, ‘’meu amooor’ e esse “ooo” se prolonga em várias notas musicais e é uma sílaba só do idioma. No final das frases isso funciona, mas quando é no meio do verso é muito arriscado. O hino da independência tem um momento que ele diz ‘’já raiou a liberdade no horizonte do Brasil’’ só que a frase melódica do Brasil que teoricamente tinha que ter 4 notas, tem 5, então fica “do o Brasil” e ninguém fala assim. A gente até respeita porque é o hino da independência e a gente era obrigado a cantar no colégio, pelo menos na minha geração, mas é um exemplo de que a métrica não é defeituosa só quando ela tem mais sílabas do que melodia, muitas vezes ela pode ser defeituosa se você tem menos sílabas do que a melodia exige.
Métrica é fundamental, é um respeito que você tem que dar ao teu parceiro (se você tiver), ou à própria criação da melodia que você fez. Além da métrica, contar as notas musicais respeitando a acentuação das palavras também é fundamental, como a gente já falou em outro capítulo sobre a prosódia, pronunciar palavras da maneira adequada é uma condição sine qua non, ou seja, fundamental para que a tua canção tenha mais do que sucesso, porque sucesso as vezes é incerto, mas é dessas condições que ela precisa para que sua canção seja compreendida e bem recebida pelo ouvinte. É isso, isso é um resumo do tema, qualquer outra dúvida entra em contato com a gente, faz um feedback, se você quer mais exemplos e tal. Obrigado, valeu, vamos para outros temas daqui a pouco.
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