Aquiles Reis: A Voz que Transformou a MPB

Coluna do Aquiles

Olha quem chegou pra somar, a própria história da música brasileira: Aquiles Reis! À partir desta semana, a Central dos Festivais passa também a publicar a coluna do Aquiles, nada mais justo retribuir homenageando o próprio com um post inaugural.

Aquiles distribui uma coluna semanalmente que lança luz sobre álbuns e EPs lançados por gente talentosa mas que tem pouco acesso a mídia de massa, um trabalho vital dentro da música pois ao distribuir por dezenas de veículos, registra historicamente esses lançamentos.

A coluna busca amenizar a falta de espaço dado a ótimos lançamentos de instrumentistas, cantores(as) e compositores(as). Através desse espaço semanal, os amantes da MPB têm acesso ao trabalho de grandes e (ainda) desconhecidos talentos.

Aquiles Rique Reis, nascido em 22 de maio de 1948 em Niterói, Rio de Janeiro, é um daqueles nomes que se entrelaçam com a história da música popular brasileira. Filho do professor e deputado Geraldo Reis, Aquiles cresceu cercado por música e política, duas forças que moldariam sua trajetória tanto nos palcos quanto fora deles. Desde jovem, mostrava talento para a música – cantava no coral do colégio e participava das missas na igreja do bairro, mas o destino tinha planos maiores para ele.

Aquiles era apaixonado por rock até que, aos 15 anos, foi fisgado pela voz suave de João Gilberto. Foi um momento transformador: os discos de rock foram deixados de lado e deram lugar a uma paixão intensa pela música brasileira. Ele levou essa paixão para o colégio, o Centro Educacional de Niterói, onde começou a aprender a cantar em grupo sob a orientação do professor Ermano Sores de Sá. Aquiles se envolveu profundamente, tanto que fundou seu primeiro trio, o Trio do CPC, ao lado de Miltinho e Ruy. O trio cantava o repertório do Centro Popular de Cultura (CPC), misturando música e atuação com outros artistas do grupo.

A partir daí, Aquiles seguiu formando movimentos culturais com forte viés popular e, em 1964, deu um passo que mudaria a sua vida para sempre: junto de Magro, criou o MPB-4, um dos grupos vocais mais importantes da música brasileira. Com o MPB-4, Aquiles e seus parceiros ganharam destaque em programas de TV como o Fino da Bossa, na TV Record, e também tiveram um impulso significativo ao serem convidados por Aloysio de Oliveira para ingressar na Gravadora Elenco, uma das mais prestigiadas do período. Esses eventos solidificaram o nome do MPB-4 no cenário musical, marcando uma época com canções que até hoje tocam o coração dos brasileiros.

Mas a trajetória de Aquiles não se limitou à música. Seguindo os passos do pai, que fundou o partido socialista no Brasil, Aquiles foi um ativo militante político. Participou intensamente das lutas pela liberdade e pela democracia, especialmente na época da Ditadura Militar, onde sua voz – tanto nos palcos quanto fora deles – tornou-se um grito pela justiça e pelos direitos humanos. Sua atuação como presidente do Sindicato dos Músicos Profissionais do Município do Rio até 1984 é um reflexo de seu compromisso com a classe artística.

Em sua vida pessoal, Aquiles casou-se duas vezes e teve dois filhos, Pedro e Isabel. Pedro seguiu os passos do pai na música, participando do mesmo coro do Centro Educacional de Niterói onde Aquiles havia cantado na juventude, um ciclo que parece fechar com harmonia e um toque de herança musical.

Aquiles Reis é mais do que um cantor; ele é um símbolo de resistência, arte e paixão pela música brasileira. Sua história mostra que, além de notas e melodias, a música é uma ferramenta poderosa para transformar o mundo ao nosso redor – algo que Aquiles, ao longo de sua carreira, sempre soube usar como ninguém.