Eternas certezas

Marya Bravo

Hoje trataremos de “Eterno Talvez” o novo álbum da atriz e cantora Marya Bravo.
Como fiquei sabendo pelo release de Alexandre Matias, muito bem escrito, por sinal,
“Eterno Talvez” é um disco de trip hop (confesso que nunca ouvira falar sobre esta
vertente musical).

Marya, que é filha de Zé Rodrix e Lizzie Bravo, volta à música ao lado dos
parceiros Nobru e Dony Von. O trabalho reuniu canções dela com seus parceiros, além
de uma só sua e outra inédita de Zé Rodrix, “Faca no Peito”, encontrada a partir do
contato com a irmã, a também cantora e compositora Barbara Rodrix.

“Eterno Talvez” (Marya e Dony): a intro vem impregnada de suspense, como que
antecipando a atmosfera que traduzirá, daí em diante, o que a música de Marya Bravo
significa para ela ao sentir, criar e cantar. E que, num breve intermezzo, serve como
respiro para que o ouvinte encontre ali o que vai pela alma de Marya.

“À Deriva” (Marya e Dony e Nobru): a voz dilacera a sonoridade que a
acompanha, enquanto os versos explodem entre sons buliçosos e plenos de proposital
estranheza.

“Avisei” (Marya e Dony): A intro propala a musicalidade que emprenha o álbum.
O espanto se espalha por entre a voz duplicada e o som atrevido da programação digital.
A ousadia do canto de Marya suplanta o som inequivocamente preparado para extrair de
sua voz uma sedutora alegoria.

“Tudo Por Acaso” (Marya e Dony): o clima musical se ajusta aos versos. O amor,
à prova de solidão, soa compartilhando o que precisa ser dito e está escrito.

“Quem É Que Vai” (Marya, Dony e Nobru): o som grave ressoa nas palavras
que reverberam nos aforismos de Marya.

“Braços Abrigo” (Marya, Dony e Nobru): a voz chega num arranjo a incitar a
imaginação do ouvinte, que se deixa levar ao sabor do cantar, numa sucessão de
expectativas contemplativas.

“Ai Quem Dera” (Marya, Dony e Nobru): por meio de sonoridades eletrônicas,
os versos assumem a vez de elevar a voz de Marya. Todos se revelando à vontade para
levar à frente um ofício harmonioso e libertário.

“Faca No Peito” (Zé Rodrix): chega pela garganta da filha que tem o pai em si e a
ele se achega, porque sabe do que precisa e o sente agasalhado em seu viver.

“Loucura Confirmando” (Marya): a introdução reaviva o simbolismo que Marya
deposita em nossos ouvidos. Ela e sua música vão juntas nesta caminhada rumo à
consistência autoral.

“Vai Acontecer” (Marya e Nobru): rolando por entre delicadezas eletrônicas,
prontas para encerrar o ciclo vital da música que criam, Marya, Nobru, Dony Von,
Nayana e Zé Rodrix refletem o que a arte lhes diz ser fundamental.

Resta-me abrir os sentidos e proclamar a criação que acabo de compreender
(acho).
Aquiles Rique Reis
Nossos protetores nunca desistem de nós
Ficha técnica: Nobru e Dony Von: produção; Pedro Garcia: mixagem; Nobru:
masterização; produção executiva: Marya Bravo; Nobru, Pedro Garcia e Elton
Bozza: gravação; capa e fotos: Léo Aversa.