Hoje vamos de Da Saudade Boa, o segundo álbum de Sonya. A tampa abre com o
samba balançado e inédito “Abertura dos Portos” (Zé da Lata e Espigão). Cada vez
mais afinada, a voz delicada de Sonya imprime sinceridade aos versos. Como ela está
cantando bonito, meu Deus! E que linda maneira de iniciar um trabalho extremamente
tão bem cuidado. Sonya e todos os que participaram da gravação o fazem com a alma
aberta às boas saudades.
Dentre os que gravaram esta faixa inicial, estão Luiz Claudio Ramos: violão e
arranjo, Zé da Lata: voz e violão, Jorge Helder: contrabaixo, João Cortez: bateria,
Daniel Silli de Castro: tamborim, Marcelo Bernardes: sax tenor, Achilles Morais:
trompete, e Rafael Rocha: trombone.
“Da Saudade Boa” (Miltinho e Magro Waghabi), que dá titulo ao álbum, é
uma música que eu conheci assim que foi composta pelos meus dois queridos amigos
do MPB4: o meu compadre Miltinho (e padrinho do meu filho Gabriel) e Magro (o
saudoso diretor musical do MPB4). Na gravação, Miltinho divide o canto com Sonya, e
a emoção brota intensa. O time de músicos que os acompanham, a exemplo da faixa
anterior, está entre o que há de melhor na atual cena instrumental brasileira: Luiz
Claudio Ramos: violão e arranjo, Cristóvão Bastos: piano, Jorge Helder: contrabaixo, e
João Cortez: bateria.
Mas uma coisa me encasqueta: o que moveu Sonya a falar das suas boas
saudades vividas de forma tão incrivelmente desprovida de amarguras? Ora, ao ouvi-la
cantar a saudade, essa coisa imprecisa e onírica que nos possui a alma pouco afeita a
singelezas, tudo se aclara e a beleza aflora.
Para cantar “Vida de Artista” (Sueli Costa e Abel Silva), Sonya vem
acompanhada unicamente pelo arranjo de Luiz Claudio Ramos, com seu violão e sua
guitarra que se alternam para vibrar a voz de Sonya. É um momento poderoso do
trabalho desta intérprete, que oferece sua saudade à amiga Sueli que já não está mais
entre nós.
A saudade boa volta forte com “Meu Violão” (Sidney Miller). Mais uma vez,
Luiz Claudio Ramos fez o arranjo e tocou “apenas” violão, enquanto Sonya, novamente,
se revela uma cantora que demonstra estar, tranquilamente, entre as grandes do Brasil.
Em “Outra Noite” (Chico Buarque e Luiz Claudio Ramos), Sonya divide o
canto com Luiz Claudio Ramos, fato incomum na vida deste grande violonista e
arranjador, pouco afeito a cantorias. Jorge Helder está no contrabaixo.
Sonia Maria Romaguera Ferreira, a Sonya, nos dá uma demonstração de
comovida delicadeza em forma de música. E a saudade boa mostra-se inteira na escolha
perfeita do repertório; e viva está, também, nas divisões rítmicas, nos graves e agudos
precisos, atributos seus desde quando integrou o Quarteto em Cy. A memória está no
coração desta mulher que, ao sentir que algo necessita ser dito, o faz cantando doce e
firmemente.
Aquiles Rique Reis
Nossos protetores nunca desistem de nós.
Ouvir o álbum:
https://open.spotify.com/intl-
pt/album/4BC6Eo7WWGyskxi2yec9Ca?si=3ToYM8orTCmPOoXSzNlHLA