Recursos para criação de letras, por Alexandre Lemos

escrever letras

Então, olá de novo! Alexandre Lemos falando sobre letra de canção. Hoje a gente vai dar uma pincelada relativamente rápida numa série de elementos, macetes e conhecimentos que vão te ajudar a conseguir colocar tua inspiração no papel para você cantar e fazer sua canção. Enfim, existem recursos que não são necessariamente feios de usar, muita gente boa usa, muita gente consagrada.

Por exemplo, existem muitas letras de canção que fazem listas… Você vai dizer lista? Como assim? Lista de rol de roupa, de material escolar? É mais ou menos isso! Talvez o maior sucesso do Raul Seixas tenha sido uma lista, chamava-se Gita, e ele ficava dizendo “eu sou a luz das estrelas, eu sou a cor do luar, eu sou, eu sou” e as pessoas cantavam aquilo encantadas e fazia sentido gramático dentro da letra. Também não era uma lista aleatória, e de certa maneira aquilo ajuda. Rimando e fazendo lista fica mais fácil ainda para o seu público acompanhar, decorar e cantar junto com você.

Recentemente, Caetano Veloso, por exemplo, regravou uma canção para fazer trilha sonora de uma novela e – eu não sei o nome da novela sinceramente, mas eu sei que ele fez isso, eu li na internet – a canção é linda, chamada “o quereres”. O quereres é uma lista. É uma lista onde ele usa 2 macetes numa canção só. Primeiro ele vai dizendo: “onde queres revólver sou coqueiro, onde queres dinheiro sou paixão” alguma coisa assim, então ele vai fazendo uma lista completando com muito talento, muita riqueza poética, muita inspiração. Mas é toda uma inspiração guiada pela estrutura da lista a qual ele mesmo se propôs e, o que é mais bacana é que ele brinca de antônimos que é o outro macete. 

Criar antagonismos entre expressões, entre versos, entre imagens que vão de certa maneira guiando teu trabalhado, facilita. Não no sentido de que torna simplório, facilita no sentido de que pavimenta como se fosse uma estrada, para você chegar no que você quer dizer. E essa estrutura, vamos dizer assim, fica organizada e os ouvintes, de uma certa maneira, também estão acostumados com listas. Existem muitas, inclusive de amor. Tem canções de amor que vão fazendo listas das qualidades do ser amado, dos seus olhos, dos seus cabelos, do seu sorriso, das suas pernas, do seu caminhar… São maneiras de você organizar: “puxa vida, eu “tô” apaixonado por essa pessoa, como eu queria escrever uma letra sobre ela… Como eu vou organizar?”, você pode organizar por exemplo numa lista, as coisas que ela te diz, as coisas que ela te faz, o olhar, o sorriso… É uma maneira de facilitar a transposição da inspiração que as vezes é uma coisa muita vaga para o papel. Isso é um recurso muito usado na canção, muito útil. 

Um outro recurso que muita gente usa, inclusive eu uso muito, é usar a rima como guia. O que é que isso quer dizer? Você teve uma ideia e aí você faz a primeira frase da sua letra. Você pode desenvolver a partir da primeira frase de diversas maneiras, uma das maneiras que vim te ajudar é você já pensar na rima que você vai usar, seja no verso subsequente ou seja dois versos depois, como a gente falou na estrutura da canção – que é aquela história que você pega o primeiro verso rima com o terceiro, o segundo rima com quarto… Essas estruturas mais tradicionais. Então você termina lá: “gosto de você do meu lado”, como é que você vai rimar com “lado”? O que é que rima com lado numa canção de amor? “Você me deixa encantado ‘’, “Estou apaixonado” … Dessa maneira você vai usando a rima como um guia, e de novo descobre uma estrada que facilita o acesso da tua inspiração para o papel. 

Então usar a rima como guia facilita muito a vida. Se você descobre naquele momento da tua inspiração uma sequência de rimas não muito usadas, isso facilita ainda mais porque você pode então guiar a tua inspiração por aquelas rimas inusitadas. Você vai ganhar muita qualidade. Tem muita letra assim que você nota que o compositor começou da metade em diante a fazer um esforço a procurar rima como, “o que é que rima com arame?” derrame “quero que ela me ame” “quero que ela me chame”… E começa então a construir imagens e versos que você nota de uma maneira muito clara que ele só construiu aquele verso, colocou aquele verso porque rimava.

Então atentos a isso! A rima pode ser um facilitador, um guia muito bom para você transformar sua inspiração temática numa letra consistente e rica e as vezes até inusitada. Se você acha rimas pouco usadas, caramba! Chama muito atenção. Um outro ponto que é muito importante vocês levarem em consideração como letrista, e eu já ouvi muito isso de jovens compositores que tem hoje um acesso muito facilitado a um universo (…) *cortou*